Onde está seu coração?

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Filosolia

Filosofando legal.

"Sou um homem doente;
doente de si."
— Dostoievski, Memórias do Subsolo

Esse homem subterrâneo descrito por Dostoievski é alguém preso.

Preso por nada além do conforto, e isso basta.

Lembremos da caverna de Platão, onde os prisioneiros se sentiam confortados em simplesmente ver as sombras passarem, enquanto aquele que saiu ao mundo exterior, isto é, o desconhecido, falou para eles a maravilha do Sol.

Tanto o homem do subsolo quanto os prisioneiros da caverna rejeitam o espanto e o desconhecido.

Eles não querem saber a dor do espanto, isto é, aquilo que está fora do seu alcance e controle;
sequer se dispõem a reconhecer a beleza que existe fora do que dominam.
É escandaloso demais para eles. Para nós, talvez...

Tanto Dostoievski quanto Platão olharam para os seus contemporâneos e disseram:

"O homem moderno não rejeita o desconhecido por falta de provas,
mas por excesso de apego ao que pode controlar.
Seu tesouro não está no falso, mas no pequeno."

É melhor o conforto do controle — ter, ver, manipular, apalpar, simplesmente não sair do lugar —
do que a entrega: o espanto de não ver, não controlar, não apalpar,
pois isso pertence a Outro.

"Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração."
— Cristo

Jesus percebeu isso no homem e fez uma pergunta que perfura toda e qualquer alma:

"Onde está o seu coração?"

Seu tesouro se resume àquilo que você pode possuir, ver, controlar e tocar
— revelando, assim, a medida do nosso vazio —
ou está além de tudo isso?

Sendo explícito: está em Cristo?

Pois é, Nietzsche tem razão quando disse:

"Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos;
de nós mesmos somos desconhecidos — e não sem motivo.
Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um dia nos encontrássemos?
Com razão alguém disse:
‘onde estiver teu tesouro, estará também teu coração’."

O espantoso tesouro também é a chave para o autoconhecimento.

Lembro-me de Agostinho de Hipona:

"Quanto mais busco conhecer a Deus,
mais sou levado a conhecer a mim mesmo;
e quanto mais conheço a mim mesmo,
mais sinto a necessidade de Deus."

O eu não se encontra olhando para si,
mas deslocando-se em direção a algo maior.

E essa é a beleza do espanto, do desconforto e da fé:
um tesouro maior do que nós.
Não temos o controle — por que tê-lo?
Por que não se lançar a esse mar revolto?

Resta a pergunta, que não aceita resposta confortável:

Onde está o teu coração — nas coisas ou no espantoso tesouro?